domingo, 30 de outubro de 2011

Igrejas na Cidade Baixa estão sem restauração


29/10/2011 às 19:10

Mary Weinstein
Pároco diz que a igreja da Boa Viagem precisa de socorro urgente Retábulos clássicos, anjos barrocos, sinos de ferro nas torres, arquitetura de época e religiosidade estão contidos nas igrejas da Bahia. As da Cidade Baixa, em Salvador, apesar do valor que têm, estão à espera de uma farta dose de misericórdia. Precisam de quantia suficiente para salvaguarda de cada uma delas. Sem restauro, se perderão.
O pároco Adilson Santana do Carmo diz que a de Nossa Senhora da Boa Viagem, que reúne tantos fiéis a cada virada de ano e aparece na mídia nacional porque mantém a sua tradição de três séculos, precisa de socorro urgente. Para ser executado, o projeto que tramita no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) precisa de cerca de R$ 2 milhões.
“O coro foi interditado em 2007 e por isso a igreja ficou fechada aquele ano inteiro. Depois foi feito um amparo”, diz o religioso. Ele conta que as reparações recomendadas pelo Iphan foram feitas. Mas que o encamisamento de quatro colunas que estavam rachadas é provisório. “Nada disso é o suficiente. Como aqui não tem muita visita turística durante o ano, aí os governantes não se preocupam”, observou.
Há dois anos foi feito o restauro do altar-mor, com financiamento do Fundo de Direitos Difusos do Ministério da Justiça. Depois foi encaminhado um projeto para os altares laterais, a sacristia e o arcaiz. “O projeto não foi selecionado durante os dois anos subsequentes porque a concorrência é muito grande”, disse José Dirson Argolo, professor da Escola de Belas Artes da Ufba e responsável pelo Studio Argolo, que fez a restauração. Ele considera a Igreja da Boa Viagem (do século XVIII, tombada em 1938) “extremamente importante, dentre as da Cidade Baixa”.
Padre Adilson é taxativo: “Acho que o Iphan deveria facilitar. Eles vêm aqui cobram, mandam cartas, mas não ajudam, não encaminham empresas que possam patrocinar e não dizem o que deve ser feito”. O padre diz que se a igreja não fosse tombada, a paróquia assumiria a reforma. “De quem é a responsabilidade? É do governo, é do município? Tudo é tombado, e tudo está caindo. Se é tombado, os órgãos deveriam cuidar”, apela.
“Está faltando uma empresa para patrocinar ou para fazer a captação de recursos. Seria interessante para a empresa porque muita gente frequenta aqui”, enfatizou o diretor náutico da Devoção do Senhor Bom Jesus dos Navegantes, Expedito Sacramento. Ele diz que o Iphan sabe sobre o problema e que enquanto não se arrecada o montante o projeto está sendo feito. A igreja pertence à Irmandade de São Pedro dos Clérigos, que tem outras duas (de São Pedro, no Terreiro de Jesus e de São Judas, nas Quintas) e 10 salas alugadas, com problemas com inquilinos. A irmandade é formada por 52 sacerdotes e seu ecônomo é o padre José Abel, pároco da Igreja de Santana. O provedor, o padre Álvaro Geraldo Teixeira, diz que há mais de 80 anos, antes do tempo do cardeal Álvaro da Silva, a da Boa Viagem está “na mão dos padres, então eles é que são os responsáveis”.
Dificuldades - O professor José Dirson cita outras igrejas na Cidade Baixa, com problemas de conservação, a exemplo da Casa Pia e Colégio dos Órfãos de São Joaquim, Capela de São Pedro Gonçalves do Corpo Santo, Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia e Igreja da Ordem Terceira da Santíssima Trindade – esta última muito degradada. “Fica perto da Ladeira da Água Brusca. Está ocupada por desabrigados. Valeria a pena ser restaurada. Mas está abandonada. Suas imagens estão no Museu de Arte Sacra”, informou o professor. Ele lembra que a escadaria é “belíssima” e que chegou a vê-la funcionando com os altares. “De qualquer forma, a responsabilidade é da arquidiocese. Está desativada para o culto há mais de 30 anos”, lamentou Dirson. Sobre a conservação e demais assuntos relacionados às igrejas de sua propriedade, a arquidiocese informou, por meio de sua assessoria, que o pároco é o responsável pelo templo onde está alocado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário