quarta-feira, 30 de março de 2011

Presidente da CRB de Salvador fala sobre a morte do Teólogo, Padre Comblin

Escrito por Administrator
Seg, 28 de Março de 2011 08:57

José, esse aperto de mão é em nome do Beozzo, do CESEP, do CEBI, do Carlos Mestres, da Ivone Gebara, das faculdades de teologia onde você lecionou... é também em nome da Teologia da Enxada!"

Assim se expressou durante o velório de Padre José Comblin, o Padre Edgar Silva Júnior, Presidente da Conferência dos Religiosos de Salvador, Bahia.

"E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?

É terceiro domingo da quaresma, o evangelho apresenta Jesus na beira do poço pedindo água a mulher samaritana. Na cidade de São Salvador da Bahia chove muito. Longe do centro turístico, na região metropolitana, bem na divisa entre Salvador e Simões Filho, num bairro pobre e meio esquecido está o “Recanto da Transfiguração” – uma comunidade de consagradas que vivem a espiritualidade trinitária. Foi nesta casa simples e acolhedora que José Comblin se encontrava. Foi cercado de gente simples que ele celebrou há dias atrás, seus 88 anos de vida, com direito a bolo e vela para apagar.
Ao lado da capela num simples quarto, na manhã do dia 27 de março, embalado nos braços da Trindade Santa, José foi para casa do Pai.


Recebi o telefonema do Frei Luciano da CPT e imediatamente segui para local. No caminho fui avisando aos amigos e amigas, que pudessem ir para lá.
Cheguei no Recanto da Transfiguração... Comblin estava na cama onde tinha dado o último suspiro. O semblante tranquilo de quem morreu como tinha sonhado... cheguei bem perto, peguei em sua mão, afagei seu rosto e lembrei naquele instante de pessoas que gostariam de fazer aquele mesmo gesto... e disse baixinho: “José esse aperto de mão é em nome do Beozzo, do CESEP, do CEBI, do Carlos Mestres, da Ivone Gebara, das faculdades de teologia onde você lecionou, do Fr Betto, do Marcelo Barros,do Ir. Bruno de Taizé, das Comunidades eclesiais de base...e tantos e tantas... é também em nome da Teologia da Enxada!

Na sala, ao lado do quarto, estavam Frei Luis Cappio, Bispo da Barra (BA), onde atualmente residia Comblin; também Eduardo Hoonaert e a esposa e a Mônica que o acompanhava. Dom Cappio nos convida a celebrar a Eucaristia. Pegamos juntos o corpo do José, levamos para capela, e numa celebração simples, familiar de pouco mais de vinte pessoas, entoamos canções que marcaram a história das comunidades. Rezamos, ouvimos o testemunho dos que ali estavam e dos amigos que conviveram com Comblin.

Terminada a celebração embalados por canções e preces nos despedimos. Pe José Comblin será sepultado na Paraíba. Lá seu corpo será semeado, no mesmo chão nordestino que acolheu Pe Ibiapina, Padre Cícero, Margarida Maria Alves, Dom Hélder Câmara...
Fechei alguns botões da sua camisa; no quarto onde veio a falecer, coloquei no guarda roupa os óculos que ainda estavam sobre a cama. Lá fora a chuva caia fina, algumas pessoas ainda chegavam, quase todos sempre com o mesmo sentimento: Muito obrigado José Comblin!
Recordei sua profecia, seus escritos, sua lucidez...e me veio no pensamento a canção:

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?"

Padre Edegard Silva Júnior
Presidente da CRB de Salvador-Ba

Última atualização em Seg, 28 de Março de 2011 11:00

Fonte: http://www.crbnacional.org.br/novo/

segunda-feira, 28 de março de 2011

Testemunho de vida!!!

Morreu um Profeta

Padre José Comblin

Domingo, 27 de março de 2011 - 19h53min

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Faleceu hoje, domingo, 27 de março, Padre José Comblin. O CEBI expressa sua gratidão pela trajetória deste profeta, cuja vida foi dedicada à causa dos emprebecidos e da Igreja Popular.

Transcrevemos abaixo a notícia postada no site do IHU.

José Comblin morreu nesta madrugada, em Salvador, na Bahia, aos 88 anos.

Ele nasceu no dia 22 de março de 1923, na Bélgica. Desde 1958 trabalhava no Brasil, especialmente em Pernambuco, na Paraíba e na Bahia.

Padre Comblin estava em tratamento médico na capital baiana. Foi encontrado morto, sentado, em seu quarto, quando era esperado para a oração da manhã e não apareceu na capela. Ele tinha problemas cardíacos e usava marcapasso. Apesar da doença, parecia bem disposto e estava trabalhando.

Ele veio para o Brasil em 1958, atendendo a apelo do papa Pio XII, que no documento Fidei domum(O Dom da Fé) pedia missionários voluntários para regiões com falta de sacerdotes.

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Comblin, em 1993, na celebração de seus 70 anos, ao lado de Helder Câmara,

Depois de trabalhar em Campinas e, em seguida, passar uma temporada no Chile, foi para Pernambuco, em 1964, quando d. Helder Câmara foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife. Perseguido pelo regime militar, foi detido e deportado, em 1972, ao desembarcar no aeroporto de volta de uma viagem à Europa.

José Comblin participou do primeiro grupo da Teologia da Libertação. Esteve na raiz das equipes de formação de seminaristas no campo em Pernambuco e na Paraíba (1969), do seminário rural de Talca, no Chile (1978) e, depois, na Paraíba, em Serra Redonda (1981). Estas iniciativas deram origem à chamada Teologia da enxada.

Além disso, esteve na origem da criação dos Missionários do Campo (1981), das Missionárias do Meio Popular (1986), dos Missionários formados em Juazeiro da Bahia (1989), na Paraíba (1994) e em Tocantins (1997).

É autor de inúmeros livros, dentre eles A ideologia da segurança nacional: o poder militar na América Latina (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978)

Pelo CEBI, José Comblin escreveu:

Paulo: trabalhador e apóstolo

Veja alguns artigos de Comblin publicado neste site:

É preciso sonhar

A não violência e o amor aos inimigos

Descriminalizar o aborto para salvar mães e crianças

Fonte:www.cebi.org.br

domingo, 27 de março de 2011

31 anos sem Dom Oscar Romero

Na última sexta-feira dia 24 de março completau-se 31 anos da morte de Dom Oscar Romero, Bispo de San Salvador, grande líder e referência para todos os cristãos, e também para a sociedade em geral, comprometidos com a causa dos mais pobres e com a construção de um mundo mais justo, solidário e igualitário.

Dom Oscar, que tanto lutou em favor dos oprimidos, foi assassinado enquanto celebrava uma missa, por um atirador de elite do exército salvadorenho. O crime foi motivado pelas denúncias públicas persistentemente feitas pelo Bispo, sobre a repressão e a violência do Estado e a exploração imposta ao povo daquele país.

Trago essa lembrança de Dom Oscar Romero, como exemplo de luta que nos dá força e esperança para seguirmos atuantes. Reproduzo abaixo artigo de Dom Samuel Ruiz Garcia, Bispo Emérito de San Cristóbal de las Casas, Chiapas – México, que muito traduz o espírito de Dom Oscar.

O Bispo dos pobres

Um grupo de bispos latino-americanos, no dia 29 de março de 1980, às vésperas dos funerais de dom Romero, assinou um documento que dizia: “Três coisas admiramos e agradecemos no episcopado de dom Oscar A. Romero: foi, em primeiro lugar, anunciador da fé e mestre da verdade [...]. Foi, em segundo lugar, um resoluto defensor da justiça [...]. Em terceiro lugar, foi o amigo, o irmão, o defensor dos pobres e oprimidos, dos camponeses, dos operários, dos que vivem nos bairros marginalizados”.

Dom Romero foi um bispo exemplar, porque foi um bispo dos pobres em um continente que carrega tão cruelmente a marca da pobreza das grandes maiorias, enxertou-se entre eles, defendeu sua causa e sofreu a mesma sorte deles: a perseguição e o martírio. Dom Romero é o símbolo de toda uma Igreja e de um continente latino-americanos, verdadeiro servo sofredor de Yahwé, que carrega o pecado, a injustiça e a morte de nosso continente. Embora, às vezes, o pressentíamos, seu assassinato não nos surpreendeu; seu destino não podia ser outro, pois ele foi fiel a Jesus e se inseriu de verdade na dor de nossos povos.

Porém, sabemos que a morte de dom Romero não foi um fato isolado. Fez parte do testemunho de uma Igreja que, tanto em Medellín, como em Puebla, optou, a partir do Evangelho, pelos pobres e oprimidos. Por isso, agora compreendemos melhor, desde seu martírio, a morte por fome e doença, realidades permanentes em nossos povos; assim como os incontáveis martírios, as incontáveis cruzes que pontuam nosso continente nestes anos: camponeses, moradores das periferias, operários, estudantes, sacerdotes, agentes de pastoral, religiosas, bispos encarcerados, torturados, assassinados por crerem em Jesus Cristo e amarem os pobres.

São, como a morte de Jesus, fruto da injustiça dos homens e, ao mesmo tempo, semente da ressurreição [...]. Dom Oscar A. “Romero é um mártir da libertação que o Evangelho exige, um exemplo vivo do pastor que Puebla queria”. Dom Romero, que assistiu em 1979 à Conferência Geral dos Bispos Latino-americanos em Puebla, identificou-se plenamente com o apelo dos bispos à “conversão de toda a Igreja para uma opção preferencial pelos pobres, no intuito de sua integral libertação” (Puebla 1134). Assim, ele leu, com toda clareza, num país esgarrado pela violência, “a testemunha subversiva das Bem-aventuranças que revolveram tudo” e entendeu que tinha de desarraigar a violência a partir de suas bases, a violência estrutural, a injustiça social. E, por isso, é dever da Igreja “conhecer os mecanismos da pobreza”.

A opção preferencial pelos pobres é um convite para a Igreja como um todo e para cada seguidor de Cristo. “O cristão, se não viver este compromisso de solidariedade com o pobre, não é digno de chamar-se cristão”, ele dizia. E continuava: “Por isso, os pobres marcaram o verdadeiro caminho da Igreja. Uma Igreja que não se une aos pobres para denunciar, a partir deles, as injustiças que se cometem contra eles, não é a verdadeira Igreja de Jesus Cristo” (Homilia, 23 de setembro de 1979). Nisso, ele reconheceu sua missão como arcebispo: “Creio que fazer esta denúncia, na minha condição de pastor do povo que sofre a injustiça, seja meu dever.

Isto me impõe o Evangelho, pelo qual estou disposto a enfrentar o processo e a prisão” (Homilia, 14 de maio de 1978). Com muita clareza, na homilia de 8 de julho de 1979, afirmou: “Se nos cortarem a rádio, se nos fecharem o jornal, se não nos deixarem falar, se matarem todos os sacerdotes e até o arcebispo, e ficar um povo sem sacerdotes, cada um de vocês deve converter-se em microfone de Deus, cada um de vocês deve ser um mensageiro, um profeta”. Durante um retiro de quatro dias com um grupo de sacerdotes do Vicariato de Chalatenango, ele anotou estas linhas, nas quais relata a resposta de seu confessor, o pe.Azcue: “Outro meu temor é a propósito dos riscos de minha vida. Custa-me aceitar uma morte violenta, que nestas circunstâncias é absolutamente possível.

O padre me deu ânimo, dizendo-me que minha disposição deve ser a de dar minha vida por Deus, qualquer que seja meu fim. As circunstâncias desconhecidas, devo vivê-las com a graça de Deus, que assistiu os mártires e, se for necessário, senti-la-ei vizinha a mim quando der o último respiro. Porém, mais importante que o momento de morrer, é oferecer a Deus toda a minha vida, viver por Ele”. Duas semanas antes de sua morte, numa entrevista ao diário Excelsior, do México, disse: “Fui freqüentemente ameaçado de morte. Devo dizer-lhe que, como cristão, não creio na morte sem ressurreição: se me matarem, ressuscitarei no povo salvadorenho.

Digo isso sem nenhum ostentação, com a maior humildade. Como pastor, sou obrigado, por mandado divino, a dar a vida por aqueles que amo, que são todos os salvadorenhos, até por aqueles que me assassinarem. Se chegarem a cumprir-se as ameaças, desde agora ofereço a Deus meu sangue pela redenção e ressurreição de El Salvador. O martírio é uma graça de Deus, que não me sinto na situação de merecer, porém, se Deus aceitar o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal de que a esperança se transformará logo em realidade.

Minha morte, se for aceita por Deus, que seja pela libertação do meu povo e como testemunho de esperança no futuro. Você pode escrever: se chegarem a me matar, desde já eu perdôo e abençôo aquele que o fizer”. Não resta dúvida sobre o caráter martirial da morte de dom Romero. Iniciou-se, na América Latina, a época em que os cristãos, morrendo pela fé, dão sua vida pela justiça.

FONTE: http://robsonleite.com.br/blog/31-anos-sem-dom-oscar-romero/

domingo, 20 de março de 2011

Viver o chamado Deus a ser transfigurado em Cristo


Leituras do 2º Domingo do Tempo da Quaresma – Ano A
1ª Leitura: Gn 12,1-4 = Vocação de Abraão, pai do Povo de Deus. Salmo Responsorial: Sl 32 = Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça. 2ª Leitura: 2Tm 1,8-10 = Deus nos chama e ilumina.
Evangelho: Mt 17, 1-9
Seis dias depois, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os fez subir a um lugar retirado, numa alta montanha. E foi transfigurado diante deles: seu rosto brilhou como o sol e suas roupas ficaram brancas como a luz. Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus. Pedro, então, tomou a palavra e lhe disse: "Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias". Ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa os cobriu com sua sombra. E, da nuvem, uma voz dizia: "Este é o meu filho amado, nele está meu pleno agrado: escutai-o!" Ouvindo isto, os discípulos caíram com o rosto em terra e ficaram muito assustados. Jesus se aproximou, tocou neles e disse: "Levantai-vos, não tenhais medo". Os discípulos ergueram os olhos e não viram mais ninguém, a não ser Jesus. Ao descerem da montanha, Jesus recomendou-lhes: "Não faleis a ninguém desta visão, até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos".

Vamos refletir:


Nós Cristãos somos chamados por Deus a uma autentica conversão pela escuta da Palavra de Deus. Abrão foi chamado por Deus a sair da sua terra, da sua casa, da sua família, da sua segurança, para ir a um lugar distante, desconhecido para ser o Pai de um grande Povo, uma benção para muito, confiando na promessa de Deus (Gn 12,1-4). Somos chamados a uma vocação santa pelo chamado de Deus, não devido a nossas obras, mas em virtude do seu designo e sua graça, nos foi dada por Cristo (2Tm 1,8-10).
Como somos chamados por Deus em Cristo, Deus nos convida a ouvir o que Cristo tem a nos dizer através da escuta da Palavra, nos declarando “este é meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado – escutai-o” (cf. Mt 17,1-9). Abrindo nosso coração a uma transformação, fruto da meditação da Palavra, da escuta do Filho muito amado, transfigurando nossas ações em vida nova, em luta pelo bem comum, pela paz, pelo amor ao próximo, pela justiça testemunhando Jesus Cristo na realidade em que vivemos. Acontecendo ai uma conversão de vida, transfiguração com Cristo, tornando nosso coração o Monte Tabor, onde acontece a transfiguração do Cristo.
Neste tempo da Quaresma, aproveitemos para rezar, refletir sobre a nossa conduta de vida, sobre nossas ações e convicções, para descobrir através da escuta e meditação da Palavra de Deus o nosso verdadeiro caminho a seguir.

sábado, 19 de março de 2011

Celebra-se hoje, 19 de março, a Solenidade de São José

Celebra-se hoje, 19 de março, a Solenidade de São José. Neste dia, a Igreja, espalhada pelo mundo todo, recorda solenemente a santidade de vida do seu patrono.

Esposo da Virgem Maria, modelo de pai e esposo, protetor da Sagrada Família, São José foi escolhido por Deus para ser o patrono de toda a Igreja de Cristo.

Seu nome, em hebraico, significa “Deus cumula de bens”.

No Evangelho de São Mateus vemos como foi dramático para esse grande homem de Deus acolher, misteriosa, dócil e obedientemente, a mais suprema das escolhas: ser pai adotivo de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Messias, o Salvador do mundo.

"Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa" (Mt 1,24).

O Verbo Divino quis viver em família. Hoje, deparamos com o testemunho de José, “Deus cumula de bens”; mas, para que este bem maior penetrasse na sua vida e história, ele precisou renunciar a si mesmo e, na fé, obedecer a Deus acolhendo a Virgem Maria.

Da mesma forma, hoje São José acolhe a Igreja, da qual é o patrono. E é grande intercessor de todos nós.

Que assim como ele, possamos ser dóceis à Palavra e à vontade do Senhor.

São José, rogai por nós!

FONTE: http://www.cancaonova.com/portal/canais/liturgia/santo/

Hino a São José:

terça-feira, 15 de março de 2011

PASSEIO SOCRÁTICO (Frei Betto)

"Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos, e em paz nos seus mantos cor de açafrão...
Em outro dia, eu observava o movimento do Aeroporto de São Paulo: a sala de espera estava cheia de Executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado o seu café da manhã em casa; mas, como a companhia aérea oferecia outro café, todos comiam vorazmente.
Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois modelos vistos por mim, até aqui, realmente produz felicidade?". Passados alguns dias, encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: "Não foi à aula?". E ela me respondeu: "Não. Eu só tenho aula à tarde". Comemorei: "Que bom! Isto significa, então, que, de manhã, você pode brincar, ou dormir até mais tarde!...". "Não;", retrucou-me ela, "tenho tanta coisa a fazer, de manhã...". "Que tanta coisa?", perguntei. "Aulas de inglês; de balé; de pintura; piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada... Fiquei pensando: "Que pena! A Daniela não me disse: "Tenho aula de meditação".
Vê-se que estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas, emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias!
Não tenho nada contra malhar o corpo... Mas, preocupo-me com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos. Alguns perguntarão "Como estava o defunto?". E outros responderão: "Olha..., uma maravilha, não tinha uma celulite!"...
Mas, como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa? Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação, porém, de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...
A palavra hoje é "entretenimento". Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil, o apresentador; imbecil, quem vai lá e se apresenta no palco; imbecil, quem perde a tarde diante da telinha...
E como a publicidade não consegue vender felicidade, ela nos passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, usar esta camisa, comprar este carro..., você chega lá!".
O problema é que, em geral, "não se chega"! Pois, quem cede a tantas propagandas desenvolve, de tal maneira, o seu desejo, que acaba precisando de um analista, ou de remédios. E quem, ao contrário, resiste, aumenta a sua neurose.
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: a amizade, a auto-estima, e a ausência de estresse.
Mas, há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um Shopping Center. É curioso: a maioria dos Shoppings Centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles, não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de "missa de domingo". E ali dentro se sente uma sensação paradisíaca: não há mendigos, não há crianças de rua, não se vê sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno: aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se vários nichos: capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Mas, aquele que só pode comprar passando cheque pré-datado, ou a crédito, ou, ainda, entrando no "cheque especial", se sente no purgatório.
E pior: aquele que não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald...
Por tudo isto, costumo dizer aos balconistas que me cercam à porta das lojas, que estou, apenas, fazendo um "passeio socrático". E, diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:"Estou, apenas, observando quantas coisas existem e das quais não preciso para ser feliz!"
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Fernando Freire Madureira
Equipe Tecnológica/UAB
Centro de Educação à Distância - CEAD
Instituto Superior de Educação - ISE

domingo, 13 de março de 2011

Converter-se tornando homem e mulher novos em Cristo

Leituras do Primeiro Domingo da Quaresma

1ª Leitura: Gn2,7-9;3,1-7 = Cristão e pecado dos primeiros pais.
Salmo Responsorial: Sl 50 = Piedade, Senhor, tende piedade.
2ª Leitura: Rm 5,12-19 = Onde abunda o pecado, ai superabundou à graça.
Evangelho: Mt 4,1-11 = Jesus jejuou durante quarenta dias e foi tentado.

Nesta última quarta-feira, celebramos a Quarta-feira de Cinzas, por tanto o inicio do Tempo Litúrgico da Quaresma - período reservado para a reflexão, a conversão espiritual. Ou seja, o católico deve se aproximar de Deus visando o crescimento espiritual. Os fiéis são convidados a fazerem uma comparação entre suas vidas e a mensagem cristã expressa no Evangelho. Esta comparação significa um recomeço, um renascimento para as questões espirituais e de crescimento pessoal. O cristão deve intensificar a prática dos princípios essenciais de sua fé com o objetivo de ser uma pessoa melhor e proporcionar o bem para os demais, ou seja, converte-se.
Neste Primeiro Domingo da Quaresma, somos convidados a fazer uma reflexão sobre as nossas opções vida. Espelhados no homem e mulher velhos que edificaram sua vida optando pela suas escolhas sendo fracos não resistindo ao mal? Ou um homem e mulher novos, com uma vida equilibrada pela paz, capaz de vencer o mal e as tentações? Eis a questão.
O homem e mulher velhos são aqueles que seguem a mentalidade de Adão e Eva, gente sem compromisso com Deus, não vive o seu projeto, capaz de aderir a projetos atraentes que destrói a si mesmo e o leva a condenação eterna. Faz suas escolhas pelo prazer, pelo agradável, saboroso, sem medir as consequências que o pecado promove na sua vida interior.
O homem e mulher novos são aqueles que constroem a sua vida na prática da verdade do Evangelho, fortalecidos pela oração, pela penitência e pela prática da caridade cristã, permitindo que Deus crie um novo coração repleto de amor.
Esse tempo quaresmal é propício, meu irmão e minha irmã, a conversão pelo silêncio a exemplo de Jesus no deserto, para que encontremos o verdadeiro caminho na nossa vida. É no silêncio que Deus nos revela por inteiro, nos achamos diante Dele e com Ele para nos encontrar verdadeiramente e nos converter. Dê essa chance para você, mude de rumo, mude de vida e se torne em Cristo um homem e uma mulher novos, renovados, repletos de amor para ser vivido na justiça e no bem.

segunda-feira, 7 de março de 2011

RETIRO QUARESMAL - 2011


P. Amilton Manoel da Silva, CP

Estamos iniciando a Quaresma. Mais uma oportunidade que a Igreja nos dá, para voltarmos o olhar para nós mesmos, para os nossos semelhantes e para o planeta, e nessas realidades, reconhecermos a presença amorosa e salvífica de Deus.

O tempo da Quaresma nos leva, sobretudo, a fixar o olhar na Páscoa do Senhor. A celebração da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus onde, pela meditação da Palavra, penitência, oração e prática do amor, nos unimos aos sofrimentos do Salvador e às dores da humanidade. Nesse sentido, a celebração da Páscoa, nos compromete com a defesa da vida, uma vez que “toda a criação geme em dores de parto e aguarda ansiosamente a redenção.” (cf. Rm 8,22)

Tudo isso só é possível se estivermos centrados em Deus, num processo contínuo de conversão, pois, Àquele nos amou primeiro, nos garante uma experiência pessoal e íntima da sua pessoa. Vale à pena tentar.

Para nos ajudar nesse caminho proponho um retiro a partir dos evangelhos de cada dia. O tema que nos iluminará é da carta aos Hebreus 12, 1-3, porque creio que com os olhos fixos em Jesus somos capazes de ver as realidades terrenas de outra maneira e dar respostas aos desafios humanos à luz da fé. A Campanha da Fraternidade deste ano servirá de suporte, pois vale lembrar que foram as atitudes orantes e contemplativas de Jesus que o levaram às ações libertadoras; da oração à ação um único mistério de amor se fez.

Que o Espírito Santo nos conduza nessa experiência de oração e na vivência profunda da Quaresma, como tempo de graça e renovação dos compromissos batismais. Bom retiro!

Método de oração de São Paulo da Cruz que poderá ser usado todos os dias:

1. Um local tranqüilo e cômodo.
§ Pacificação interior – consciência do corpo – relaxamento/mais ou menos 5 minutos.
§ Sentir-se na presença de Deus. § Reavivar a fé na presença e no amor de Deus. Fazer um ato de fé.
§ Reconhecimento dos pecados. Ato de humildade e pedido de perdão dos pecados.
§ Diga a Deus o que você deseja conseguir na oração.
2. Invocar o Espírito Santo. (oração, mantra, refrão, etc.) 3. LER O TEXTO BÍBLICO INDICADO PARA O DIA.
§ Ler várias vezes... fixar-se nas palavras...
4. Imaginar o cenário: ambiente, personagens fisionomia das pessoas...
5. Entrar na cena, dialogar com os personagens, sobretudo com Cristo.
§ Para ajudar, você poderá fazer perguntas (sugestão de Santa Tereza e de São Paulo da Cruz): Quem? Como? Quando? Por quê?
6. Atualizar as palavras de Jesus: O que este texto me pede? O que ele pede á humanidade? Como o amor de Deus se expressa nesse evangelho? Prestar atenção nos sentimentos...
7. Diga jaculatórias, ex: “Senhor, eu vos agradeço por terdes morrido na cruz pelos meus pecados, por meu amor, meu Jesus misericórdia”. “Maria, minha terna mãe, gravai no meu coração as chagas e Jesus Crucificado”, “Jesus, eu confio em Vós”...
8. Agradecimentos e propósitos - o que me proponho, diante dos apelos de Deus?
9. Faça preces pelas necessidades da Igreja e do mundo.
10. Se desejar, anote um versículo, ou escreva uma pequena oração referente ao tema ou algo que te provocou durante a oração.

“É no sagrado deserto interior que a alma aprende a ciência dos santos, como Moisés na profunda solidão do monte Horeb.” (São Paulo da Cruz)

COM OS OLHOS FIXOS EM JESUS – Hb 12, 1-3

CINZAS – Discernimento no olhar.

09/03 – Mt 6, 1-6.16-18: Deus (oração), eu (jejum) e o outro, o meio ambiente, o planeta (esmola).
10/03 – Lc 9, 22-25: Renúncia e cruz.
11/03 – Mt 9, 14-15: O jejum que fortalece.
Sábado: Rezar profundamente Hb 12, 1-3

PRIMEIRA SEMANA – 13/03. Mt 4, 1-11 - Tentações que afastam o nosso olhar de Jesus.

14/03 – Mt 25, 31-46: Indiferença com o irmão sofredor. “Eras tu, Senhor?”
15/03 – Mt 6, 7-15: Multiplicar palavras... Rezar apenas com os lábios...
16/03 – Lc 11, 29-32: Buscar sinais miraculosos, quando Deus se faz sinal na nossa vida.
17/03 – Mt 7, 7-12: Pedir o desnecessário. “O Pai vos dará o que precisais...”
18/03 – Mt 5, 20-26: Fechar-se ao perdão.
19/03 (Sábado) – Mt 1, 16.18-21.24a: São José manteve o olhar no Menino Deus e na sua Mãe.

Fixe o olhar no Crucifixo e peça ao Senhor a graça de vencer as tentações, como Ele venceu os que buscavam destruir o projeto de vida do Pai. Apresente ao Senhor os frutos da semana.

SEGUNDA SEMANA – 20/03. Mt 17, 1-9 – Com os olhos fixos no Senhor transfigurado,

21/03 – Lc 6, 36-38: Porque Ele é misericordioso.
22/03 – Mt 23, 1-12: Porque sua liderança é serviço.
23/03 – Mt 20, 17-28: Porque seu serviço educa e salva.
24/03 – Lc 16, 19-31: Porque voltou-se para o pobre.
25/03 – Lc 1, 26-38: Porque Ele se fez carne, e acolhe o SIM dos seus servos.

Sábado: Fixe o olhar na imagem do Coração de Jesus. Visualize a sua glória, glória que se mostra num coração que ama e que por isso está para fora. Apresente ao Senhor os frutos da semana. Conclua com uma oração espontânea, como: Quero viver, Senhor, transfigurado...

TERCEIRA SEMANA – 27/03. Jo 4, 5- 42 – O olhar do Senhor é uma fonte de água viva,

28/03 – Lc 4, 24-30: Capaz de aumentar a nossa fé.
29/03 – Mt 18, 21-35: Capaz de abrir nosso coração ao perdão.
30/03 – Mt 5, 17-19: A nos fortalecer na prática dos mandamentos.
31/03 – Lc 11, 14-23: Que expulsa os demônios.
01/04 – Mc 12, 28-34: Que nos conduz para o maior dos mandamentos.

Sábado: Fixe o olhar numa imagem de Jesus que lembra uma cena bíblica. Apresente ao Senhor os frutos da semana. Conclua com uma oração espontânea, como: Tu és a fonte de água viva...

QUARTA SEMANA – 03/04 – Jo 9, 1- 41. A luz do olhar de Cristo, nos olhos dos pequenos.

04/04 – Jo 4, 43-54: O olhar de Cristo no enfermo.
05/04 – Jo 5, 1-16: O olhar de Cristo no paralítico e nas paralisias da criação.
06/04 – Jo 5, 17-30: O olhar do Pai e do Filho repousa sobre a humanidade.
07/04 – Jo 5, 31-47: Atingidos pelo olhar de Deus, nos tornamos suas testemunhas.
08/04 – Jo 7, 1-2.10.25-30: O olhar de Cristo naqueles que dão testemunho da verdade.

Sábado: Fixe o olhar em Jesus Crucificado e veja nele alguém que está sofrendo e que você conhece. Traga presente a CF 2011, os gemidos da criação... Reze nestas intenções e apresente ao Senhor os frutos da semana. Conclua com uma oração espontânea, como: Minha luz é Jesus e Jesus me conduz pelos caminhos da paz...

QUINTA SEMANA – 10/04 – Jo 11, 1-45. Ele nos arrancou da escuridão do túmulo, e com seu olhar pede:

11/04 – Jo 8, 1-11: ...para não condenar, mas acolher.
12/04 – Jo 8, 21-30: ...para identificar-se com o “Eu Sou”.
13/04 – Jo 8, 31-42: ...para proclamar a verdade que liberta.
14/04 – Jo 8, 51-59: .... para guardar a Palavra á luz da fé.
15/04 – Jo 10, 31-42: ...fortaleza nas perseguições, por causa do seu nome.

Sábado: Fixe o olhar na natureza. Contemple-a com os olhos do Criador “que viu que tudo era bom.” Escute a criação gemendo em dores de parto, a espera da vida plena. Reze nestas intenções e apresente ao Senhor os frutos da semana. Conclua com uma oração espontânea, como: Senhor, arranca-me as amarras. Quero caminhar sem medo guiado por suas mãos...

SEMANA SANTA - 17/04 – O olhar doloroso, amoroso e glorioso de Jesus:

18/04 – Jo 12, 1-11: Para que eu exale o perfume de Deus.
19/04 – Jo 13, 23-33. 36-38: Para que eu glorifique o Pai, no Filho.
20/04 – Mt 26, 14-25: Para que eu seja fiel.

Obs: O retiro deve ser acompanhado de gestos concretos, sobretudo ligados a Campanha da fraternidade, como também a busca do sacramento da penitência. FELIZ E SANTA PÁSCOA!